A travessia da ala F
É uma viagem mais longa do que a da Patagônia ao Alaska
Recosto-me num ombro imaginário
E vejo tudo:
O que vivi
O que temi
O que comi e não digeri
Porque a dor não se digere assim
Leva anos, séculos,
Expressões inúteis
Ladrilhos escorregadios
Cacos de espelhos colados na parede
Água gelada acordando meu corpo anestesiado
A lucidez é um fiapo
Que me envolve como uma sentença de morte
Pulsos cortados presos à cama
Enquanto a vida homeopaticamente se esvai pelas frestas da janela inexistente
Sussurros de camudongos enchem meu peito de pavor
Trazem fantasmas, sombras, medos
Um dia entrarão e roerão tudo
Teus olhos também
Nada será poupado, nem a lembrança
Fragmentos de sentidos se espalham no silêncio do poema
O ruído: pesadelo semântico
O ruído: avatar da miséria
O ruído: corte na alma
Para além do ruído, a palavra medrosa, o deserto
O espelho descobrindo continentes esquecidos
As montanhas longínquas do norte
Emolduram fragmentos de desejo
que rodopiam em volta de uma promessa não cumprida
os dedos de A. se enrodilham nos meus cabelos soltos
Caminho pelas minhas veredas inúteis
E vejo que não há onde se esconder
Todos os cômodos estão tomados de dor
De escuridão
Nenhum vagalume... E eu prossigo
Nenhuma esperança ao redor: apenas sangue
O quarto inteiro cheio de sangue
e borboletas
"Sumehrianas" é uma brincadeira e uma homenagem à minha cidade natal, Sumé, Paraíba. É uma brincadeira porque, de fato, quem nasce em Sumé, é sumeense. Mas os meus colegas, civilizados, do Pio XI, Campina Grande, 1977, “viajavam” pra longe quando eu dizia a minha procedência. Na verdade, eles diziam sumeriana, em referência à Suméria. Estou acrescentando um “h” depois do “e”, para continuar a brincadeira e também para tornar estas “sumehrianas” únicas.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
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