Triste Fortaleza, ó quão dessemelhante...
O verso do título é de Gregório de Mattos, meados do século XVII e, em vez de Fortaleza, lia-se “Triste Bahia”. Mas é Fortaleza e as suas dessemelhanças (e inospitalidade) que me motivam agora, tempo de campanha para prefeito, a escrever um pouco.
Vejo, sinto e me angustio todos os dias com as dessemelhanças em Fortaleza. Elas se expressam dos mais diversos modos e circunstâncias, mas é ao tráfego que me dedicarei aqui. Todos os dias me coloco no lugar dos pedestres que têm de atravessar a BR-116 à altura da Aerolândia. São milhares de trabalhadores que cotidianamente, no início da manhã, se arriscam entre os carros em alta velocidade para não chegarem atrasados nos seus empregos.
Não tenho a estatística dos mortos, mas certamente aquele é um dos nossos mais importantes “pontos de óbito”. Do trecho que me concerne, viaduto da Oliveira Paiva, até a rotatória da Aguanambi, há apenas uma passarela. Isto já seria, em si, uma agressão àqueles trabalhadores. Mas a dessemelhança, o paradoxo, a loucura mesmo, tornam-se ainda mais visíveis quando observamos o espetáculo seguinte: no centro da rotatória da Aguanambi há uma praça que eu não creio que seja utilizada por mais de 10 pessoas por dia. Para falar a verdade, passo ali em diferentes horários do dia e jamais vi uma única pessoa!
Curiosamente há ali uma passarela. Uma passarela enorme, esquisita, provavelmente cara, ligando nada a lugar nenhum e, logo ali do lado, quilômetros de BR-116, com pesado tráfego de pedestres, sem passarela nenhuma. Acho particularmente curioso o fato de que a tal passarela para a praça da rotatória tenha sido construída no governo de Luizianne Lins. Não é interessante que com uma política supostamente voltada para os pobres, questões graves como essa não sejam resolvidas? Será a passarela para a praça fantasma da rotatória um dos monumentos da lista dos necessários à construção da Fortaleza “bela”? Não seria de outros slogans e ações que precisamos?
Vejo, sinto e me angustio todos os dias com as dessemelhanças em Fortaleza. Elas se expressam dos mais diversos modos e circunstâncias, mas é ao tráfego que me dedicarei aqui. Todos os dias me coloco no lugar dos pedestres que têm de atravessar a BR-116 à altura da Aerolândia. São milhares de trabalhadores que cotidianamente, no início da manhã, se arriscam entre os carros em alta velocidade para não chegarem atrasados nos seus empregos.
Não tenho a estatística dos mortos, mas certamente aquele é um dos nossos mais importantes “pontos de óbito”. Do trecho que me concerne, viaduto da Oliveira Paiva, até a rotatória da Aguanambi, há apenas uma passarela. Isto já seria, em si, uma agressão àqueles trabalhadores. Mas a dessemelhança, o paradoxo, a loucura mesmo, tornam-se ainda mais visíveis quando observamos o espetáculo seguinte: no centro da rotatória da Aguanambi há uma praça que eu não creio que seja utilizada por mais de 10 pessoas por dia. Para falar a verdade, passo ali em diferentes horários do dia e jamais vi uma única pessoa!
Curiosamente há ali uma passarela. Uma passarela enorme, esquisita, provavelmente cara, ligando nada a lugar nenhum e, logo ali do lado, quilômetros de BR-116, com pesado tráfego de pedestres, sem passarela nenhuma. Acho particularmente curioso o fato de que a tal passarela para a praça da rotatória tenha sido construída no governo de Luizianne Lins. Não é interessante que com uma política supostamente voltada para os pobres, questões graves como essa não sejam resolvidas? Será a passarela para a praça fantasma da rotatória um dos monumentos da lista dos necessários à construção da Fortaleza “bela”? Não seria de outros slogans e ações que precisamos?
Comentários
Passarelas e passarelas
Fazia um tempinho, né.
Há passarela do samba e da moda; há passarelas acolhedoras que conduzem os pedestres até a beira certa. Há passarelas que não conduzem em nenhuma parte. Há passarelas meramente narcìssicas que são apenas afirmação de poder, marcas dum consenso mole. Há passarelas que não servem a ninguém; apenas são uma forma de provocação para o povo que não tem direito de emprestá-las; que se aparentam à miragem, cada vez mais afastada, do respeito da sua dignidade que os políticos manipulam com eficácia e cinismo.
E há outras passarelas. Aqueles livros de poesia (Solidão Equilibrista, por exemplo) que oferecem verdadeiras avenidas entre os corações, as almas dos seres humanos. Aquele fino fio sobre o qual a autora de Solidão Equilibrista dança e brinca com as palavras da emoção, dos não-ditos, dos mal-ditos, do pudor, da inconveniência, da espontaneidade juvenil, da mulher que os anos, as provas da vida, os amores e as suas decepções, nunca deixaram desprovida de humanidade, de brilho, de nobreza, de humildade e daquela borbulhante vivacidade.
Há outras passarelas, também, das quais você pertence, com certeza; aquelas mulheres-passarelas, luminosas, que incitam os homens a tornarem-se melhores; que os guiam numa forma de renascimento; que os conduzem a outros estados de consciência; que os abrem a outras formas de ser, de sensibilidade e de envolvimento; que os encorajam a entregarem-se sem armas, sem màscara, sem disfarce.
Obrigado por existir como você é, nesse blog, e como te imagino na vida real, mulher-passarela de Sumé.
Muad’Dib
Li com bastante atenção o seu artigo no jornal O POVO de hoje. Dou toda a razão à senhora antropóloga e seu ponto de vista. O fortalezense hoje está acuado onde quer que se dirija. As praças públicas, as calçadas, as praias e os mais variados espaços públicos estão sendo privatizados, seja com vendedores ambulantes (praças), seja para estacionamento de carros (clínicas, mercantis, etc), seja barracas, restaurantes e hotéis (praias).
Daqui alguns dias a população de Fortaleza terá que andar pelas ruas disputando o espaço com os carros, logicamente, em total desvantagem.
No exemplo citado pela senhora, a BR 116, altura do Bairro Aerolândia, não é só alí o único trecho perigoso da rodovia. Até as proximidades da Polícia Rodoviária Federal, a rodovia oferece um extremo perigo a quem tentar sua travessia.
Quando a Rodovia BR 116 foi alargada (construída), obra esta finalizada por volta de 1986 a 1987, aproximadamente, os recursos já estavam garantidos pelo regime militar, que acabara de deixar o poder.
Pois bem, a citada rodovia seria uma das mais modernas do Brasil, com obras de paisagismo de BURLE MARX., e o que se pode observar é que essas obras jamais foram realizadas.
Logo após a Polícia Rodoviária Federal, no sentido Aguanambi - Messejana, se a senhora perceber, tanto do lado esquerdo como do lado direito da rodovia, existem dois pilares altíssimo, que é para servir de sustentação a outra passarela, e nunca a construíram.
Mas o problema maior da BR 116 se deve a dois importantes fatores:
1 – Ao grande crescimento urbano dos bairros da zona sul de Fortaleza como Cidade dos Funcionários, Messejana, Pedras, Santa Maria, Lagoa Redonda, Sabiaguaba, Precabura, Sapiranga, Parque Manibura, Ancuri, Paupina e, estendendo-se até ao vizinho Município de Eusébio, onde já existem grandes condomínios residenciais, cujos moradores antes residiam em Fortaleza.
2 - Em virtude dessa expansão imobiliária, as vias de acessos não acompanharam o crescimento da cidade e nem ao volume do tráfego de carros, ocorrendo assim, demasiados congestionamentos.
Professora Bernadete, reflita comigo: se nós estamos no Center Um, na Avenida Santos Dumont e queremos nos deslocar à Messejana, nós só temos três opções de acesso, que são as seguintes:
a – Avenida Aguanambi via BR – 116;
b – Avenida Desembargador Moreira via Avenida Raul Barbosa que despeja seu trânsito, também na BR 116;
c – Avenida Santana Júnior via Avenida Washington Soares.
Somente essas são as três vias de escoamento do tráfego para uma quantidade enorme de veículos que se deslocam rumo à zona sul da cidade, o que nos leva a crer que a solução está na abertura de novas avenidas paralelas as três vias citadas, com a finalidade de descongestionar o trânsito, dando assim, maior vazão ao crescente número veículos naquela área da cidade. Se isso não acontecer, dentro de 4 anos, aproximadamente, as três vias de acesso estarão completamente saturadas. Aí, então, veremos o caos urbano.
Quanto àquela Praça, a Manuel Dias Branco, projetada para homenagear o genitor do proprietário da Fábrica Fortaleza, o Sr. Ivens Dias Branco, não pode ser considerada uma praça, e sim, apenas um marco, uma rotatória, pois as características de uma praça é justamente a presença de pessoas em seu espaço.
E tem mais um detalhe, o Bairro Dunas (nome original, bonito, poético e bem ecológico), nas proximidades da Praia do Futuro, já não se chama mais Bairro Dunas. Agora, a denominação oficial é BAIRRO MANUEL DIAS BRANCO, ou seja, uma dupla homenagem, quando existem tantos outros nomes que poderiam ser homenageados. A notícia eu li na coluna do Jornal O POVO, denominada “O POVO NOS BAIRROS”. Inclusive um leitor estava a reclamar de dificuldade em orientar-se, devido a inexistência de placas indicativas com a denominação das ruas.
Professora Bernadete, o que me levou a escrever para a Senhora foi sentir sua preocupação com Fortaleza.
Eu também me preocupo muito com Ela, inclusive com a conservação e preservação do seu Patrimônio Histórico.
TORQUATO PRISCO
Historiador