O Evolucionismo do Século XIX e a Antropologia(1)
Bernadete Beserra
O evolucionismo do século XIX é o resultado de um processo social-histórico que vinha se gestando mais claramente desde as grandes descobertas marítimas do século XV. O sucesso do emprendimento Europeu de conquistar o mundo, associado com as questões filosóficas e morais que vinham sendo postas como resultado da convivência dos Europeus colonizadores com os povos colonizados cria o ambiente apropriado para a manifestação do que estamos considerando aqui evolucionismo do século XIX.
Interessa-nos aqui, sobretudo, explorar os movimentos da ciência nesse século e o lugar específico da antropologia, assim como o seu legado. A despeito dos debates entre ciência e fé serem pelo menos dois séculos anteriores ao século XIX, o estudo do homem e da sociedade não tinham ainda conquistado o estatuto dos estudos sobre a natureza, os quais, desde Bacon (1561-1626) e Descartes (1596-1650) começam a se orientar pelas regras do que chamamos hoje ciência moderna.
Essa ciência em gestação propõe-se a substituir o princípio de autoridade da fé e aceitar, como fonte de connhecimento, a experiência e a razão. Seria, portanto, através da observação que o cientista iria descobrir relações de causa e efeito entre os fenômenos sob observação. Através do estabelecimentos de relações mais complexas entre os fenômenos o cientista estaria pronto para formular hipóteses, leis e teorias científicas. Dessas generalizações são deduzidas consequências lógicas as quais são submetidas aos rigorosos testes experimentais. Se estes testes não confirmam a verdade contida nas proposições, novas observações são requeridas para se saber o que aconteceu de errado em qualquer fase da pesquisa. Ou seja, além de buscar as leis que estariam na base de todos os fenômenos, essa ciência tinha que produzir provas empíricas da sua explicação. Contra o caráter de certeza do pensamento religioso, esse novo tipo de conhecimento afirma ser mantido pela dúvida. Teses permanecem teses enquanto puderem ser verificadas como tal. Mas essa idéia de ciência estará ainda muito distante da afirmação de Popper de que o conhecimento cientifico é por natureza hipotético. Mas entre Bacon e Popper por quantas mudanças sociais e por quantos filósofos da ciência não passamos?
Até o século XIX esse conhecimento e as suas regras eram aplicados ao estudo de fenômenos físicos e naturais. O homem e a sociedade eram ainda objeto da especulação moral ou filosófica ou dos dogmas religiosos. Embora seja razoável observar que desde o século XVII, aqueles que se tornaram conhecidos com os iluministas, incluindo o próprio Descartes, começam a buscar explicações naturais sobre os fenômenos sociais. Não é demais lembrar que estudos tais como o de Locke, Rousseau, Hobbes, Montesquieu são até hoje referências de estudos contemporâneos e não apenas do ponto de vista histórico, ou seja, eles contêm elementos cujo alcance teórico chega até nós. Não é à toa, por exemplo, que Levi-Strauss elege Rousseau o pai das ciências sociais. E Evans-Pritchard e Raymond Aron elegem Montesquieu como um dos primeiros filósofos a racionarem sociologicamente. Esses filósofos estavam interessados basicamente nas mesmas questões que até hoje nos interessam. Eles estavam, por exemplo, tão interessados em entender as bases do poder quanto as da própria vida social. Eles também estavam interessados em compreender as diferenças entre os homens e o seu estatuto.
Fruto dessas circunstâncias que lhe antecederam, o século XIX anuncia sob diversos aspectos uma das vitórias mais definitivas do homem sobre Deus. Contra os desígnios de Deus, embora ainda em seu nome, o homem (europeu) conquistou os mares, expandiu seu império, fundou a indústria moderna.
É claro, como lembram os “ladrões” de Dickens e Swift ou as condições subhumanas de existência das classes trabalhadoras de Marx ou os suicidas de Durkheim, que as sociedades européia e americana do século passado não eram só esperança num futuro triunfante do homem, como Morgan em geral supunha. Ao contrário, serão justamente os problemas dessa sociedade que permitirão ou inspirarão a criação de explicações tais como a de Marx, Durkheim, Weber, Pareto, só para citar alguns dos nomes mais importantes. Parece-me (e a Aron, por exemplo) que os problemas mais que os triunfos levaram muitos desses filósofos a se dedicarem ao estudo das suas sociedades. Mas quando falamos em antropologia, ou nos seus primeiros fundadores, observamos que esses problemas não têm o mesmo peso que tem para aqueles cujo objeto de estudo é a própria sociedade. Os estudiosos que hoje estão relacionados à história da antropologia eram aqueles cujo interesse estava voltado para a compreensão de outras expressões da família humana (para usar uma expressao de Morgan). Usando como referência as suas sociedades e valorizando especialmente a tecnologia que teria levado ao conhecimento de outros povos e terras ( assim como à sua dominação), Morgan, Tylor, Bastian, McLennan e outros evolucionistas não tinham dúvidas de que a sociedade da qual eles observavam as outras estaria anos-luz distante daquelas.(2)
Como explicar tal situação? Ou seja como explicar que em sendo todos humanos sejamos tão diferentes? O desafio (como sugere Kaplan & Manners, 1966) não é simplesmente explicar tais diferenças, mas explicá-las buscando suas causas naturais, ou seja, saindo do domínio de Deus. É nesse contexto, cujos contornos todos nao podemos delinear em tao pouco tempo, que surge o evolucionismo.
Contra as garantias da religião que prega que as coisas são como são por vontade divina, os evolucionistas observam não apenas que as coisas não permanecem iguais para sempre, mas que elas são produzidas pelos homens nas suas relaçòes sociais e politicas. Mas, como o homem chegou a ser o que é?
Essa questão, naturalmente, já vinha sendo indagada desde as primeiras descobertas quando os descobridores observaram, contra as suas expectativas, que, pelo menos fisicamente, os homens eram bem semelhantes. Ou seja, os rabos, chifres e outros estranhezas que se esperava encontrar não foram encontrados. Em lugar disto, entretanto, era evidente a diferença entre esse homem recém-descoberto e os seus descobridores. Eles tinham outros hábitos, religiões, morais, etc. Embora os descobridores nunca vissem isto, ou seja, não observando comportamento semelhantes aos seus eles simplesmente afirmavam que esse homem diferente faltava uma filosofia, moral, etc. O fato é que essas famílias eram diferentes. Tal diferença, em função das circunstâncias da necessidade Européia de explorar e escravizar esse homem, foi interpretada como inferioridade e a questão, então, era explicar porque eles – os Europeus – eram superiores e os Outros – inferiores?
Refutando as explicações religiosas, os filósofos buscavam uma explicação natural para a história do homem. A questão era, entao, explicar, por intermédio da razão e das provas empíricas, como o homem alcançou a civilização. Como responder tal questão sem a ajuda de Deus? Noutras palavras, de que método científico necessitamos ?
Sem dúvida a noção de evolução foi de uma oportunidade decisiva. Como diz Mercier (1966) não há noção mais importante para a fundação da antropologia que a noção de evolução. Em outras palavras, a noção de evolução associada a dados etnográficos de primeira ou segunda mão e a sua utilização como provas empíricas é tudo que a antropologia necessita para começar a se estabelecer como uma ciência. Um objeto especifico: O estudo da evolução da humanidade. Uma teoria própria: As diferenças observáveis refletem diferentes momentos na escala da evolução humana. Um método próprio: a coleta e a classificação de costumes fora dos seus contextos.
A ordem era entender a historia da diversidade de diversos costumes, como fizeram, por exemplo, Buchofen e Morgan, em relação à origem da família. Ou Tylor (e depois Frazer) em relação à religião.
Vamos nos deter no caso de Morgan por considerarmos, como o Prof. Gene Anderson, que, entre os “old anthropologists” Morgan foi aquele cujo legado foi mais decisivo para a história da nossa disciplina. Vejamos porque.
Podemos começar dizendo que Morgan foi o mais pretensioso. Ao invés de procurar a evolução ou origem de um só costume, ele percebeu que o progresso da humanidade requer mais do que apenas inovações tecnológicas. Ou seja, embora ele tenha largamente relacionado evolução ou progresso com o desenvolvimento das “artes de subsistência”, ele tinha consciência de que todos os outros fatores que ele estudou em Ancient Society, quais sejam, diferentes tipos de família, governo e propriedade, estavam intrinsecamente relacionados uns com os outros. Em outras palavras: o progresso seria uma função de um desenvolvimento geral o qual atingia diversas instituições simultaneamente. Como ele diz claramente quando se refere à civilização: não é somente o alfabeto fonético que caracteriza os inicios da civilizaçào, precisamos entender o alfabeto fonético como fruto de idéias diversas e relacionadas. Tal perspectiva tem sido considerada holística por não reduzir a explicação de um processo a apenas uma causa. Foi certamente essa perspectiva holística associada ao seu materialismo – que o teria levado a observar a evolução da humanidade a partir das “artes da subsistência” – que teria levado sua obra a despertar tanto o interesse de Marx, e inclusive, a ser usada por Engels como provas empíricas das suas argumentações sobre as origens da família, do Estado e da propriedade privada.
Vejamos agora quais os postulados gerais assim como as explicações que Morgan propôs para entender a história do progresso da humanidade. Na introdução de Ancient Society, Morgan apresenta os postulados da sua teoria afirmando que, em geral, apesar das diferenças observadas nas diversas familias humanas, a historia da humanidade é a mesma em experiência, em progresso e em origem. Sua carreira tem sido essencialmente uma, embora transitando em diferentes mas uniformes canais em todos os continentes. Eis aqui a razão de se classificar o evolucionismo de Morgan como unilinear. Ele não apenas acreditava na idéia de unidade psíquica da humanidade, como ele também acreditava numa única carreira para todos. As diferenças observadas, portanto, entre as “famílias humanas” são, portanto, simplesmente explicadas pelo eixo temporal, como produto do progresso da história. “Eu sou hoje o que você será amanhã”
De que metodologias os evolucionistas lançaram mão para basearem esses postulados? Ou verificarem suas teorias?
O método evolucionista tornou-se conhecido como método comparativo. Após definirem através da observação das sociedades conhecidas em geral, mas especialmente a sociedade capitalista européia e/ou americana, que o elemento-chave ou a substância da evolução das sociedades humanas é a tecnologia, o método comparativo foi usado para comparar elementos tecnológicos entre diversas sociedades. Separados dos contextos em que eram produzidos, elementos ou costumes isolados eram comparados e classificados de acordo com as hipóteses dos pesquisadores como sobrevivências do passado, ou, simplesmente como manifestação da origem dos costumes presentes.
Essa idéia de sobrevivência, elaborada por Tylor, foi certamente uma das mais profícuas nas explicações evolucionistas. Tanto que depois, os funcionalistas, criticarão com um cuidado especial tal artifício teórico. (survivals)
Conduzido pela idéia de que as sociedades conservam sobrevivencias de suas formas passadas, Morgan, por exemplo, observando diferenças entre sistemas de parentesco classificatórios e descritivos, foi levado a inferir que, do ponto de vista do casamento, as sociedades “primitivas”eram promíscuas.
Mas, de um modo geral, todos os evolucionistas explicaram como falta o que era simplesmente diferente. Em geral, eles compararam todos os “bens”da civilização com a sua falta nas ditas sociedades primitivas. Deste modo, e novamente no caso de Morgan, é interessante ver como no seu esquema evolucionário “as famílias humanas” superam gradativamente suas faltas na medida em que passam de um estágio mais inferior para um imediatamente superior. Isto é, em geral eles passam do simples ao complexo, do indeterminado ao determinado, do confuso ao claro, etc. Obviamente, o complexo, o determinado e o claro eram os costumes tal como dados na civilização, ou seja, na sociedade do observador. Morgan classificou em três os estágios pelos quais a humanidade passaria: o primitivismo, a barbárie e, finalmente, a civilização. Os dois primeiros estágios contendo subdivisões as quais eram expressas pelas palavras alto, médio e baixo designando a passagem de níveis mais elementares para níveis mais complexos.
Acho que essas são, mui resumidadmente, as principais idéias relacionadas ao evolucionismo. Além disto, em em relação a Morgan especifivamente, eu poderia acrescentar que embora ele tenha se tornado conhecido pelo esquema de evolução proposto em Ancient Society (3) , seu legado para a antropologia está mais relacionado com a sua descoberta de que os sistemas de classificação de parentesco representam uma das formas mais efetivas de se entender as relacoes sociais especialmente no caso das sociedades primitivas. Ele fez tal descoberta quando estudando os iroqueses entre os quais viveu certos períodos da sua vida e dos quais era também advogado para defendê-los sobre questões de território. Dessas observações, ele também produziu uma das primeiras monografias fruto da observação direta de uma sociedade não européia.
Poderia acrescentar que a despeito da crítica, o evolucionismo foi o grande pontapé que as ciências humanas e sociais precisavam para começar a se estabelecerem como ciência. Referência indipensavel de toda a produção cientifica posterior, o evolucionismo definitivamente ganhou o primeiro “round” contra a fé: 1. Provou que os fenômenos sociais podem ser estudados de modo naturalista e 2. Criou o método comparativo como substituto para as técnicas experimental e de laboratório das ciências sociais. No caso específico da antropologia, o evolucionismo introduziu também a idéia, depois exaustivamente explorada pelos funcionalistas, do trabalho de campo. Além de que, uma parte considerável da nomenclatura e conceitos antropológicos foi produzida aí.
(1)Uma primeira versão deste texto foi apresentado à disciplina Antropologia I, no programa de pós-graduação em Antropologia da Universidade da Califórnia, Riverside, em setembro de 1997.
(2)Lembro aqui o que Lowie’s History of Ethnology diz sobre esses filósofos que eram também médicos e advogados entre outras profissões. Olhando suas obras mais de perto, Lowie observa que todos eles de uma forma mais ou menos evidente estavam atentos para a compreensão de cada sociedade como um todo, ou seja, eles sabiam que aqueles fatos que eles separavam dos seus contextos só poderiam ser compreendidos verdadeiramente dentro dos seus contextos. Embora eles tivessem essa percepção, eles, de fato, não estavam interessados em compreende-los contextualmente mas como elementos parte de uma evolução histórica e geral.
(3) Lowie atribui isto aos usos de Ancient Society por Marx e Engels e sua consequente difusão nos países socialistas
"Sumehrianas" é uma brincadeira e uma homenagem à minha cidade natal, Sumé, Paraíba. É uma brincadeira porque, de fato, quem nasce em Sumé, é sumeense. Mas os meus colegas, civilizados, do Pio XI, Campina Grande, 1977, “viajavam” pra longe quando eu dizia a minha procedência. Na verdade, eles diziam sumeriana, em referência à Suméria. Estou acrescentando um “h” depois do “e”, para continuar a brincadeira e também para tornar estas “sumehrianas” únicas.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
sábado, 25 de julho de 2009
Estróina e Supérfluo & Breve réquiem a Igor Bezerra
(http://estroinaesuperfluo.blogspot.com)
Somente agora descobri que Igor também tinha um blog. Posso, então, continuar descobrindo-o independentemente de nos encontrarmos e nos tocarmos com os olhos ou as palavras. É para o blog que me transporto correndo logo que desligo o telefone depois de longa conversa com Kátia, sua mãe e minha irmã mais velha. Há dois meses Igor morreu tragicamente em Salamanca, onde fazia o mestrado em Estética. Toda morte próxima é um choque que paralisa e se propaga acordando lembranças e medos. Quando Laís me telefonou dando a notícia eu o vi diante de mim: contando suas andanças pelas artes e Filosofia. Ele me lembrava muito de mim mesma em idade próxima à sua porque eu também não parava de me perguntar sobre as coisas do mundo e da alma... e nem de fumar, apesar de ser também asmática! Pensei quase imediatamente nos meus filhos, Lucas, Raquel e Caio, que têm idades próximas e que espero que vivam para sempre. Ele tinha 23 anos incompletos.
Kátia me indica particularmente um texto: Impressões de Salamanca (http://estroinaesuperfluo.blogspot.com/2008/12/impresses-de-salamanca.html). É a partir do Igor que encontro lá que busco o outro: dos encontros breves e esporádicos em João Pessoa. Parafraseando Camus e Benjamim, Igor dá uma lição sobre o desbravamento das cidades. Contra a perspectiva “sob controle”, “guiada” do turista, ele propõe que uma cidade se conhece deixando-se nela perder. E afirma: “a questão é perder-se, como acontece quando se tenta encontrar um bar ao qual já se tenha ido, mas ao qual não se sabe voltar, e, então, percorre-se todas as direções que a Plaza Mayor permite, para que assim se chegue ao lugar desejado sem que se pergunte nada a ninguém. E parte-se da Plaza Mayor porque sempre se faz necessário que se estabeleça um ponto donde começar a considerar as demais coisas.”
Concordo com você, querido, a questão é mesmo perder-se... Ter a coragem de se entregar ao que nos oferece a existência, curta ou longa. O seu blog tornou-se uma dessas cidades onde também me darei o luxo de me perder. Caminhando pelas suas palavras e idéias, sinto-o ainda próximo, ainda vivo. Quase aqui, do meu lado, perguntando se li o Benjamim da arte no tempo da reprodutibilidade técnica. Quase aqui me mostrando possibilidades que as minhas andanças não haviam me apresentado...
Somente agora descobri que Igor também tinha um blog. Posso, então, continuar descobrindo-o independentemente de nos encontrarmos e nos tocarmos com os olhos ou as palavras. É para o blog que me transporto correndo logo que desligo o telefone depois de longa conversa com Kátia, sua mãe e minha irmã mais velha. Há dois meses Igor morreu tragicamente em Salamanca, onde fazia o mestrado em Estética. Toda morte próxima é um choque que paralisa e se propaga acordando lembranças e medos. Quando Laís me telefonou dando a notícia eu o vi diante de mim: contando suas andanças pelas artes e Filosofia. Ele me lembrava muito de mim mesma em idade próxima à sua porque eu também não parava de me perguntar sobre as coisas do mundo e da alma... e nem de fumar, apesar de ser também asmática! Pensei quase imediatamente nos meus filhos, Lucas, Raquel e Caio, que têm idades próximas e que espero que vivam para sempre. Ele tinha 23 anos incompletos.
Kátia me indica particularmente um texto: Impressões de Salamanca (http://estroinaesuperfluo.blogspot.com/2008/12/impresses-de-salamanca.html). É a partir do Igor que encontro lá que busco o outro: dos encontros breves e esporádicos em João Pessoa. Parafraseando Camus e Benjamim, Igor dá uma lição sobre o desbravamento das cidades. Contra a perspectiva “sob controle”, “guiada” do turista, ele propõe que uma cidade se conhece deixando-se nela perder. E afirma: “a questão é perder-se, como acontece quando se tenta encontrar um bar ao qual já se tenha ido, mas ao qual não se sabe voltar, e, então, percorre-se todas as direções que a Plaza Mayor permite, para que assim se chegue ao lugar desejado sem que se pergunte nada a ninguém. E parte-se da Plaza Mayor porque sempre se faz necessário que se estabeleça um ponto donde começar a considerar as demais coisas.”
Concordo com você, querido, a questão é mesmo perder-se... Ter a coragem de se entregar ao que nos oferece a existência, curta ou longa. O seu blog tornou-se uma dessas cidades onde também me darei o luxo de me perder. Caminhando pelas suas palavras e idéias, sinto-o ainda próximo, ainda vivo. Quase aqui, do meu lado, perguntando se li o Benjamim da arte no tempo da reprodutibilidade técnica. Quase aqui me mostrando possibilidades que as minhas andanças não haviam me apresentado...
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Seminário Racismo e Ações Afirmativas no Ceará
Seminário Racismo e Ações Afirmativas no Ceará
26 e 27 de maio de 2009
26/05 (Terça-feira)
Manhã: 9:30h – 12h
Abertura e Coordenação do Debate: Mirtes Amorim, Bernadete Beserra e Sylvio Gadelha
Conferência de abertura: Crítica à noção de identidade nas Ciências Sociais.
Eduardo Diatahy B. de Menezes (Ciências Sociais - UFC)
Tarde: 14:30 – 17:30h
Mesa-Redonda 1: Cearensidade e Negritude
Abertura e Coordenação: Bernadete Beserra
Eurípedes Antônio Funes (História – UFC)
Ruy Vasconcelos (Ciências Sociais - UFC)
Antônio Vilamarque de Sousa (Prefeitura Municipal de Fortaleza)
Frank Ribard (História – UFC)
27/05 (quarta-feira)
Manhã: 9 – 12h
Mesa-redonda 1: Minorias, política e ações afirmativas.
Abertura e Coordenação: Sylvio Gadelha (Educação – UFC)
Isabelle Braz Peixoto da Silva (Ciências Sociais – UFC)
Maria Auxiliadora de Paula Holanda (Educação – UFC)
José Hilário Ferreira Sobrinho (Faculdade Ateneu)
Mirtes Amorim (Filosofia - UFC)
Tarde: 14:30 – 17:30h
Mesa-redonda 2: O debate sobre cotas na UFC
Abertura e Coordenação: Sandra Petit (Educação – UFC)
Henrique Cunha Jr. (Educação - UFC)
Bernadete Beserra (Educação – UFC)
Pedro Vítor Gadelha Mendes (Ciências Sociais – UFC)
André Costa - (OAB-CE e Instituto Afirmação de Direitos-Igualdade e Justiça)
Rui Martinho Rodrigues (debatedor)
Inscrições e informações:
E-mail: cearensidadeenegritude@hotmail.com
Fone: 8783 4529
26 e 27 de maio de 2009
26/05 (Terça-feira)
Manhã: 9:30h – 12h
Abertura e Coordenação do Debate: Mirtes Amorim, Bernadete Beserra e Sylvio Gadelha
Conferência de abertura: Crítica à noção de identidade nas Ciências Sociais.
Eduardo Diatahy B. de Menezes (Ciências Sociais - UFC)
Tarde: 14:30 – 17:30h
Mesa-Redonda 1: Cearensidade e Negritude
Abertura e Coordenação: Bernadete Beserra
Eurípedes Antônio Funes (História – UFC)
Ruy Vasconcelos (Ciências Sociais - UFC)
Antônio Vilamarque de Sousa (Prefeitura Municipal de Fortaleza)
Frank Ribard (História – UFC)
27/05 (quarta-feira)
Manhã: 9 – 12h
Mesa-redonda 1: Minorias, política e ações afirmativas.
Abertura e Coordenação: Sylvio Gadelha (Educação – UFC)
Isabelle Braz Peixoto da Silva (Ciências Sociais – UFC)
Maria Auxiliadora de Paula Holanda (Educação – UFC)
José Hilário Ferreira Sobrinho (Faculdade Ateneu)
Mirtes Amorim (Filosofia - UFC)
Tarde: 14:30 – 17:30h
Mesa-redonda 2: O debate sobre cotas na UFC
Abertura e Coordenação: Sandra Petit (Educação – UFC)
Henrique Cunha Jr. (Educação - UFC)
Bernadete Beserra (Educação – UFC)
Pedro Vítor Gadelha Mendes (Ciências Sociais – UFC)
André Costa - (OAB-CE e Instituto Afirmação de Direitos-Igualdade e Justiça)
Rui Martinho Rodrigues (debatedor)
Inscrições e informações:
E-mail: cearensidadeenegritude@hotmail.com
Fone: 8783 4529
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
De viagens e amores:
Céus do Sertão - Viajando para Sumé
À Emma, aniversariante de amanhã, e Gabi, que continuam esperando (e cobrando!) novas postagens
E aí 2009 chegou... E também cheguei eu aqui, finalmente, depois de muita viagem! O ano da graça de 2008, que começou meio atrapalhado, terminou cheio de presentes e promessas. Aprendi muita coisa sobre este mundo vasto mundo e também sobre o meu coração. A publicação de Solidão Equilibrista e o encontro com Muad’Dib foram os presentes do segundo semestre. Conto hoje sobre a publicação e lançamentos de Solidão Equilibrista. Amanhã ou depois, conto sobre Muad’Dib.
Como expliquei na crônica do dia 04 de setembro de 2008, Solidão Equilibrista foi uma “viagem” que durou quase 30 anos. Uma longa viagem, portanto. Há - naquele livrinho - poemas que foram gestados e paridos nos fins da década de 1970! Aquela poesia foi o meu candeeiro nos momentos de escuridão vividos aqui e ali ao longo dessas décadas nas três das cinco cidades mais importantes da minha vida: Sumé, Campina Grande e Fortaleza. Meio por acaso, tive o privilégio de lançá-lo em todas essas cidades.
Campina Grande foi a primeira delas. Não me lembro exatamente como se desenvolveu a idéia de lançar Solidão Equilibrista primeiro lá, mas sei que nenhuma cidade poderia ter sido mais apropriada para isto do que ela. Talvez o motivo mais importante seja mesmo o fato de que foi lá que encontrei Álvaro e de que foi ele que me apresentou ao mundo da poesia tal como o compreendo hoje. Cláudia, a quem anunciei primeiro a publicação do livro, contou para Lúcia, num encontro casual no shopping, e rapidamente as duas organizaram tudo: conseguiram convites, coquetel, entrevista na televisão e até o Lemuel Guerra, diretor do Centro de Humanidades da UFCG, tocando piano!
Quis que fosse Marcos Agra o apresentador do livro. Marcos foi o melhor professor da minha vida. Conseguia transformar a gramática portuguesa numa viagem cheia de mistérios e fascínios! Me impressionou tanto que até hoje procuro melhorar como professora à sua imagem e semelhança. Mais do que um professor exemplar, Marcos era uma das mais importantes referências das letras campinenses do meu tempo e provavelmente continua sendo até hoje. O seu senso crítico aguçado e a minha confiança no seu discernimento poético me diziam que se minha poesia passasse pela sua aprovação, eu poderia finalmente me considerar uma poetisa. Toda essa admiração me fez hesitar um pouco antes de convidá-lo a apresentar o livro, mas finalmente criei coragem e convidei. Ele aceitou, mas, como disse no discurso de apresentação, também tinha receios. Desde que saí de Campina Grande, em 1986, raramente nos encontramos e sabíamos um do outro apenas através de terceiros. Para ele, era uma surpresa que eu aparecesse com um livro de poesia quando nos nossos tempos de amigos eu nunca lhe revelara qualquer intenção de me expressar sob essa forma literária. Assim, aceitou o convite, mas prometeu para si mesmo que, se não gostasse do livro, inventaria uma dor de barriga qualquer e não iria apresentá-lo.
Felizmente foi e fez a apresentação com tanto entusiasmo que nunca vou me perdoar por não tê-la gravado. Ainda hoje, quase três meses depois do lançamento, as palavras de Marcos sobre a minha poesia ainda acariciam minha alma. Também me acariciou a alma a apresentação que Lúcia Couto fez do meu outro livro, Brasileiros nos Estados Unidos, também lançado na ocasião. A propósito do comentário introdutório de Lemuel Guerra, que dizia que o público tinha o prazer de simultaneamente conhecer duas faces da autora, a da cientista social e a da poetisa, Lúcia discordava dizendo que também na obra acadêmica eu mostrava a minha face poética. Se não me trai a memória, ela disse algo assim: “os dois trabalhos são filhos do mesmo olhar poético, de uma mesma forma de observar e interpretar o mundo, é isso que torna Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos uma obra acessível a qualquer um.
Além da presença dos amigos mais próximos e colaboradores da obra, como Eduardo e Erika Guimarães, que criaram a capa de Solidão Equilibrista, também apareceram parentes e amigos que eu não encontrava há muito tempo, dentre eles, meu primos queridos, Cleumberto e João Bosco Reinaldo. Edna Guedes, mãe de Álvaro, e seus filhos Luiz Antônio e Rosa, também me deram a enorme honra das suas presenças. Encontrar Edna era como entrar na máquina do tempo e também encontrar Álvaro. Acho que a força da reunião com ela, seus filhos, Claudia e Marcos Agra simultaneamente materializava um pouco Álvaro. Assim como a reunião com Mãe, Klênia, Betânia, Wallas, Mariana, Beatriz, Nilda, Lola e René era também materializar um pouco Fábio.
Em Fortaleza, na noite de 4 de novembro de 2008, o lançamento também foi uma festa de amigos. Ireleno Benevides e Olganira Mota, os apresentadores, assim como Marcos Agra, em Campina Grande, foram enormemente generosos com suas palavras e interpretações da autora e da sua poesia. Impressionei-me com a viagem que Ireleno fez pelo mundo da poesia e da crítica literária a partir dos poemas de Solidão Equilibrista. Ri e quase chorei com a reinvenção do livro e da autora proposta por Olganira. Mas o que me comoveu mesmo foi ver os meus poemas ganhando vida na boca e nas interpretações dos meus amigos dos Poemas Violados. Aproveito para agradecer a Nilze Costa e Silva, Manoel César, Gervana Nobre, Fernando Néri, Olganira Mota, Theofilo Gravinis, Italo Rovere, Bento Filho, Expedito Maurício e Webster pela interpretação primorosa. A festa do lançamento foi dedicada a Caio Brito, meu filho e aniversariante do dia, e a Fábio Gutemberg, meu irmão historiador, que gostava de festas e amigos.
Dos três lançamentos, o de Sumé foi o que ensejou a viagem mais longa e mais profunda... Mas é também uma história que se mistura com outras e merece uma crônica à parte, que escreverei proximamente. Por enquanto, aproveito que ainda estamos nos primeiros dias deste ano para desejar a todos um ótimo 2009. E lembrar que, apesar das dificuldades que se anunciam na política e economia internacionais, a astrologia acredita que a entrada de júpiter em aquário traz mais esperança do que desespero.
À Emma, aniversariante de amanhã, e Gabi, que continuam esperando (e cobrando!) novas postagens
E aí 2009 chegou... E também cheguei eu aqui, finalmente, depois de muita viagem! O ano da graça de 2008, que começou meio atrapalhado, terminou cheio de presentes e promessas. Aprendi muita coisa sobre este mundo vasto mundo e também sobre o meu coração. A publicação de Solidão Equilibrista e o encontro com Muad’Dib foram os presentes do segundo semestre. Conto hoje sobre a publicação e lançamentos de Solidão Equilibrista. Amanhã ou depois, conto sobre Muad’Dib.
Como expliquei na crônica do dia 04 de setembro de 2008, Solidão Equilibrista foi uma “viagem” que durou quase 30 anos. Uma longa viagem, portanto. Há - naquele livrinho - poemas que foram gestados e paridos nos fins da década de 1970! Aquela poesia foi o meu candeeiro nos momentos de escuridão vividos aqui e ali ao longo dessas décadas nas três das cinco cidades mais importantes da minha vida: Sumé, Campina Grande e Fortaleza. Meio por acaso, tive o privilégio de lançá-lo em todas essas cidades.
Campina Grande foi a primeira delas. Não me lembro exatamente como se desenvolveu a idéia de lançar Solidão Equilibrista primeiro lá, mas sei que nenhuma cidade poderia ter sido mais apropriada para isto do que ela. Talvez o motivo mais importante seja mesmo o fato de que foi lá que encontrei Álvaro e de que foi ele que me apresentou ao mundo da poesia tal como o compreendo hoje. Cláudia, a quem anunciei primeiro a publicação do livro, contou para Lúcia, num encontro casual no shopping, e rapidamente as duas organizaram tudo: conseguiram convites, coquetel, entrevista na televisão e até o Lemuel Guerra, diretor do Centro de Humanidades da UFCG, tocando piano!
Quis que fosse Marcos Agra o apresentador do livro. Marcos foi o melhor professor da minha vida. Conseguia transformar a gramática portuguesa numa viagem cheia de mistérios e fascínios! Me impressionou tanto que até hoje procuro melhorar como professora à sua imagem e semelhança. Mais do que um professor exemplar, Marcos era uma das mais importantes referências das letras campinenses do meu tempo e provavelmente continua sendo até hoje. O seu senso crítico aguçado e a minha confiança no seu discernimento poético me diziam que se minha poesia passasse pela sua aprovação, eu poderia finalmente me considerar uma poetisa. Toda essa admiração me fez hesitar um pouco antes de convidá-lo a apresentar o livro, mas finalmente criei coragem e convidei. Ele aceitou, mas, como disse no discurso de apresentação, também tinha receios. Desde que saí de Campina Grande, em 1986, raramente nos encontramos e sabíamos um do outro apenas através de terceiros. Para ele, era uma surpresa que eu aparecesse com um livro de poesia quando nos nossos tempos de amigos eu nunca lhe revelara qualquer intenção de me expressar sob essa forma literária. Assim, aceitou o convite, mas prometeu para si mesmo que, se não gostasse do livro, inventaria uma dor de barriga qualquer e não iria apresentá-lo.
Felizmente foi e fez a apresentação com tanto entusiasmo que nunca vou me perdoar por não tê-la gravado. Ainda hoje, quase três meses depois do lançamento, as palavras de Marcos sobre a minha poesia ainda acariciam minha alma. Também me acariciou a alma a apresentação que Lúcia Couto fez do meu outro livro, Brasileiros nos Estados Unidos, também lançado na ocasião. A propósito do comentário introdutório de Lemuel Guerra, que dizia que o público tinha o prazer de simultaneamente conhecer duas faces da autora, a da cientista social e a da poetisa, Lúcia discordava dizendo que também na obra acadêmica eu mostrava a minha face poética. Se não me trai a memória, ela disse algo assim: “os dois trabalhos são filhos do mesmo olhar poético, de uma mesma forma de observar e interpretar o mundo, é isso que torna Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos uma obra acessível a qualquer um.
Além da presença dos amigos mais próximos e colaboradores da obra, como Eduardo e Erika Guimarães, que criaram a capa de Solidão Equilibrista, também apareceram parentes e amigos que eu não encontrava há muito tempo, dentre eles, meu primos queridos, Cleumberto e João Bosco Reinaldo. Edna Guedes, mãe de Álvaro, e seus filhos Luiz Antônio e Rosa, também me deram a enorme honra das suas presenças. Encontrar Edna era como entrar na máquina do tempo e também encontrar Álvaro. Acho que a força da reunião com ela, seus filhos, Claudia e Marcos Agra simultaneamente materializava um pouco Álvaro. Assim como a reunião com Mãe, Klênia, Betânia, Wallas, Mariana, Beatriz, Nilda, Lola e René era também materializar um pouco Fábio.
Em Fortaleza, na noite de 4 de novembro de 2008, o lançamento também foi uma festa de amigos. Ireleno Benevides e Olganira Mota, os apresentadores, assim como Marcos Agra, em Campina Grande, foram enormemente generosos com suas palavras e interpretações da autora e da sua poesia. Impressionei-me com a viagem que Ireleno fez pelo mundo da poesia e da crítica literária a partir dos poemas de Solidão Equilibrista. Ri e quase chorei com a reinvenção do livro e da autora proposta por Olganira. Mas o que me comoveu mesmo foi ver os meus poemas ganhando vida na boca e nas interpretações dos meus amigos dos Poemas Violados. Aproveito para agradecer a Nilze Costa e Silva, Manoel César, Gervana Nobre, Fernando Néri, Olganira Mota, Theofilo Gravinis, Italo Rovere, Bento Filho, Expedito Maurício e Webster pela interpretação primorosa. A festa do lançamento foi dedicada a Caio Brito, meu filho e aniversariante do dia, e a Fábio Gutemberg, meu irmão historiador, que gostava de festas e amigos.
Dos três lançamentos, o de Sumé foi o que ensejou a viagem mais longa e mais profunda... Mas é também uma história que se mistura com outras e merece uma crônica à parte, que escreverei proximamente. Por enquanto, aproveito que ainda estamos nos primeiros dias deste ano para desejar a todos um ótimo 2009. E lembrar que, apesar das dificuldades que se anunciam na política e economia internacionais, a astrologia acredita que a entrada de júpiter em aquário traz mais esperança do que desespero.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Rumo a Sumé - Convite para Lançamento de Livros
Aí Sonielson fez o convite que eu queria fazer: lançarmos juntos, em Sumé, os nossos livros. Aproveitar o ensejo do dia 8 de dezembro, festa de padroeira... Aproveitar a desculpa dos livros para visitar Sumé, ponto de partida e laboratório poético... Aproveitar e reencontrar velhos amigos... Então, sim, Sumé, próximo destino. Você está convidado para chegar lá. Dia 6 de dezembro, às 16 horas, no São Tomé Esporte Clube. Os livros a se lançar são os que aparecem acima, no convite.
Eu e Sonielson nos apresentaremos um ao outro... Brevemente, claro, porque o que importa mais é o bate-papo informal com os amigos e velhos conhecidos que esperamos encontrar por lá.
Obrigadíssima, Sonielson, por esse empurrãozinho...
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Triste Fortaleza, ó quão dessemelhante...
O verso do título é de Gregório de Mattos, meados do século XVII e, em vez de Fortaleza, lia-se “Triste Bahia”. Mas é Fortaleza e as suas dessemelhanças (e inospitalidade) que me motivam agora, tempo de campanha para prefeito, a escrever um pouco.
Vejo, sinto e me angustio todos os dias com as dessemelhanças em Fortaleza. Elas se expressam dos mais diversos modos e circunstâncias, mas é ao tráfego que me dedicarei aqui. Todos os dias me coloco no lugar dos pedestres que têm de atravessar a BR-116 à altura da Aerolândia. São milhares de trabalhadores que cotidianamente, no início da manhã, se arriscam entre os carros em alta velocidade para não chegarem atrasados nos seus empregos.
Não tenho a estatística dos mortos, mas certamente aquele é um dos nossos mais importantes “pontos de óbito”. Do trecho que me concerne, viaduto da Oliveira Paiva, até a rotatória da Aguanambi, há apenas uma passarela. Isto já seria, em si, uma agressão àqueles trabalhadores. Mas a dessemelhança, o paradoxo, a loucura mesmo, tornam-se ainda mais visíveis quando observamos o espetáculo seguinte: no centro da rotatória da Aguanambi há uma praça que eu não creio que seja utilizada por mais de 10 pessoas por dia. Para falar a verdade, passo ali em diferentes horários do dia e jamais vi uma única pessoa!
Curiosamente há ali uma passarela. Uma passarela enorme, esquisita, provavelmente cara, ligando nada a lugar nenhum e, logo ali do lado, quilômetros de BR-116, com pesado tráfego de pedestres, sem passarela nenhuma. Acho particularmente curioso o fato de que a tal passarela para a praça da rotatória tenha sido construída no governo de Luizianne Lins. Não é interessante que com uma política supostamente voltada para os pobres, questões graves como essa não sejam resolvidas? Será a passarela para a praça fantasma da rotatória um dos monumentos da lista dos necessários à construção da Fortaleza “bela”? Não seria de outros slogans e ações que precisamos?
Vejo, sinto e me angustio todos os dias com as dessemelhanças em Fortaleza. Elas se expressam dos mais diversos modos e circunstâncias, mas é ao tráfego que me dedicarei aqui. Todos os dias me coloco no lugar dos pedestres que têm de atravessar a BR-116 à altura da Aerolândia. São milhares de trabalhadores que cotidianamente, no início da manhã, se arriscam entre os carros em alta velocidade para não chegarem atrasados nos seus empregos.
Não tenho a estatística dos mortos, mas certamente aquele é um dos nossos mais importantes “pontos de óbito”. Do trecho que me concerne, viaduto da Oliveira Paiva, até a rotatória da Aguanambi, há apenas uma passarela. Isto já seria, em si, uma agressão àqueles trabalhadores. Mas a dessemelhança, o paradoxo, a loucura mesmo, tornam-se ainda mais visíveis quando observamos o espetáculo seguinte: no centro da rotatória da Aguanambi há uma praça que eu não creio que seja utilizada por mais de 10 pessoas por dia. Para falar a verdade, passo ali em diferentes horários do dia e jamais vi uma única pessoa!
Curiosamente há ali uma passarela. Uma passarela enorme, esquisita, provavelmente cara, ligando nada a lugar nenhum e, logo ali do lado, quilômetros de BR-116, com pesado tráfego de pedestres, sem passarela nenhuma. Acho particularmente curioso o fato de que a tal passarela para a praça da rotatória tenha sido construída no governo de Luizianne Lins. Não é interessante que com uma política supostamente voltada para os pobres, questões graves como essa não sejam resolvidas? Será a passarela para a praça fantasma da rotatória um dos monumentos da lista dos necessários à construção da Fortaleza “bela”? Não seria de outros slogans e ações que precisamos?
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Sobre a paixão
(in Solidão Equilibrista, Edições UFC, 2008)
De que serve a paixão
senão para transmutar o dia em borboletas,
ruídos em vagalumes,
e nuvens em deuses, cometas, zumbis?
de que serve a paixão
senão para me envolver nessa nuvem de desejo
e me transformar numa mulher esguia, leve,
com idéias e desejos se desprendendo de minha alma
como bolhas de sabão?
de que serve a paixão
senão para nos transformar um pouco?
nos carregar com as suas vagas para o meio do mar,
e nos abandonar lá, no escuro,
sem vento e sem prancha?
de que serve a paixão
senão para ver a dor tomando todos os cômodos da casa?
todos os poros das paredes, móveis, lençóis?
escorrendo devagar por todas as frestas e ralos?
de que serve a paixão
senão para deixar este deserto maior do que o Saara dentro de mim?
É assim: quando se vai a paixão
resta um oceano inteiro a se navegar...
O mundo se apresenta em vestes menos espalhafatosas;
meio cinzento,
meio rosa-clarinho,
às vezes amarelo-pálido...
breves visões de oásis...
Eu, me olhando no espelho...
e me enxergando
outra vez...
De que serve a paixão
senão para transmutar o dia em borboletas,
ruídos em vagalumes,
e nuvens em deuses, cometas, zumbis?
de que serve a paixão
senão para me envolver nessa nuvem de desejo
e me transformar numa mulher esguia, leve,
com idéias e desejos se desprendendo de minha alma
como bolhas de sabão?
de que serve a paixão
senão para nos transformar um pouco?
nos carregar com as suas vagas para o meio do mar,
e nos abandonar lá, no escuro,
sem vento e sem prancha?
de que serve a paixão
senão para ver a dor tomando todos os cômodos da casa?
todos os poros das paredes, móveis, lençóis?
escorrendo devagar por todas as frestas e ralos?
de que serve a paixão
senão para deixar este deserto maior do que o Saara dentro de mim?
É assim: quando se vai a paixão
resta um oceano inteiro a se navegar...
O mundo se apresenta em vestes menos espalhafatosas;
meio cinzento,
meio rosa-clarinho,
às vezes amarelo-pálido...
breves visões de oásis...
Eu, me olhando no espelho...
e me enxergando
outra vez...
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