quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O que esperar de 2012?

Jornal O POVO. Sábado, 31 de dezembro de 2012

Cotidiano

A inospitalidade da cidade e as esperanças para o futuro

Bernadete Beserra
Antropóloga. Professora da Faculdade de Educação da UFC. Email: bernadetebeserra@yahoo.com.br)

O que esperar de 2012?

Uma resposta sociológica exige, antes de tudo, que se ignore o apelo de esperança que acompanha os rituais de fim de ano para o foco no presente, no que há; no que foi prometido e cumprido e no que podemos esperar... Ou não. Há, portanto, uma enorme distância entre o que os nossos políticos prometeram e o que, afinal, cumpriram. Concentro-me em Fortaleza cujas ruas percorro, como pedestre ou motorista, diariamente. É deste lugar que observo, falo e me arrisco a sonhar. É também dele que sinto o peso da inospitalidade da cidade que se apresenta de muitas formas, mas sobretudo na ausência de um planejamento de ações em favor de uma vida mais confortável para os seus habitantes, pobres ou ricos.


A multiplicação selvagem de prédios em áreas já saturadas, como a Aldeota, e a expansão de tal “tendência” a áreas despreparadas do ponto de vista do saneamento e da malha viária sinalizam claramente a direção do progresso da cidade. A velha e insustentável política do privado contra o público vigora e ao crescimento econômico não se alia o bem-estar da população que se espreme humilhada num transporte público que se envaidece de ser um dos mais baratos do país, mas deve certamente disputar o lugar de um dos piores do mundo. Usuários do transporte público, mas também motoristas, ciclistas e pedestres se ressentem de uma administração ágil em cobrar impostos e multas e lentíssima na manutenção da malha viária, na criação de pistas para ciclistas e na fiscalização da padronização e limpeza das calçadas. Se calçadas e ruas não são adequadas aos ágeis pedestres e aos carros, imagine o perigo que correm os cadeirantes que se aventuram à locomoção fora de casa!

A esses problemas, adiciona-se o péssimo e desrespeitoso serviço de consertos que mantém por meses seguidos (e até anos!) trechos vitais fechados tornando o tráfego ainda pior e levando comerciantes à falência e residentes ao desconforto de estacionarem seus carros na rua ou caírem nos buracos. Quantos fortalezenses não morrem ou se acidentam todos os dias em virtude de buracos nas ruas, bueiros abertos, falta de sinalização?


Até aqui, dei apenas um passeio superficial pela cidade, acompanhada de fortalezenses saudáveis e empregados, residentes em bairros centrais ou periféricos. Não entrei no quesito da saúde, da educação, da segurança, do desemprego, da corrupção. Não me aproximei dos professores ou policiais militares em permanente estado de greve... O que eu, socióloga e habitante de Fortaleza, espero de 2012? Espero que desliguemos as nossas TVs e computadores e nos reunamos para recriar a política sepultada pelos governos de “esquerda” e “direita”. Que nos reunamos para cobrar dos nossos governantes o prometido. Felizmente ou não, acho que está em nossas mãos a construção de um 2012 mais promissor.