(http://estroinaesuperfluo.blogspot.com)
Somente agora descobri que Igor também tinha um blog. Posso, então, continuar descobrindo-o independentemente de nos encontrarmos e nos tocarmos com os olhos ou as palavras. É para o blog que me transporto correndo logo que desligo o telefone depois de longa conversa com Kátia, sua mãe e minha irmã mais velha. Há dois meses Igor morreu tragicamente em Salamanca, onde fazia o mestrado em Estética. Toda morte próxima é um choque que paralisa e se propaga acordando lembranças e medos. Quando Laís me telefonou dando a notícia eu o vi diante de mim: contando suas andanças pelas artes e Filosofia. Ele me lembrava muito de mim mesma em idade próxima à sua porque eu também não parava de me perguntar sobre as coisas do mundo e da alma... e nem de fumar, apesar de ser também asmática! Pensei quase imediatamente nos meus filhos, Lucas, Raquel e Caio, que têm idades próximas e que espero que vivam para sempre. Ele tinha 23 anos incompletos.
Kátia me indica particularmente um texto: Impressões de Salamanca (http://estroinaesuperfluo.blogspot.com/2008/12/impresses-de-salamanca.html). É a partir do Igor que encontro lá que busco o outro: dos encontros breves e esporádicos em João Pessoa. Parafraseando Camus e Benjamim, Igor dá uma lição sobre o desbravamento das cidades. Contra a perspectiva “sob controle”, “guiada” do turista, ele propõe que uma cidade se conhece deixando-se nela perder. E afirma: “a questão é perder-se, como acontece quando se tenta encontrar um bar ao qual já se tenha ido, mas ao qual não se sabe voltar, e, então, percorre-se todas as direções que a Plaza Mayor permite, para que assim se chegue ao lugar desejado sem que se pergunte nada a ninguém. E parte-se da Plaza Mayor porque sempre se faz necessário que se estabeleça um ponto donde começar a considerar as demais coisas.”
Concordo com você, querido, a questão é mesmo perder-se... Ter a coragem de se entregar ao que nos oferece a existência, curta ou longa. O seu blog tornou-se uma dessas cidades onde também me darei o luxo de me perder. Caminhando pelas suas palavras e idéias, sinto-o ainda próximo, ainda vivo. Quase aqui, do meu lado, perguntando se li o Benjamim da arte no tempo da reprodutibilidade técnica. Quase aqui me mostrando possibilidades que as minhas andanças não haviam me apresentado...
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2 comentários:
Querida Berna, apesar da tristeza pela perda de seu sobrinho, foi com um sorriso no rosto que recebi seu email falando desta postagem. Trago sempre você na memória como a pessoa que primeiro me ajudou a descontruir algumas frágeis certezas!!!
De tempos em tempos me vejo perdida no pensamento de como seria a minha vida sem meus pais. É bom saber que todos compartilhamos este sentimento, pois nada é mais previsível [e temerário] que a morte! Vida longa a toda sua família! :)
adoro teu jeito com as palavras.
transmito meu pesar, deixo um beijo e parabenizo-te.
beijo grande
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