sábado, 25 de julho de 2009

Estróina e Supérfluo & Breve réquiem a Igor Bezerra

(http://estroinaesuperfluo.blogspot.com)

Somente agora descobri que Igor também tinha um blog. Posso, então, continuar descobrindo-o independentemente de nos encontrarmos e nos tocarmos com os olhos ou as palavras. É para o blog que me transporto correndo logo que desligo o telefone depois de longa conversa com Kátia, sua mãe e minha irmã mais velha. Há dois meses Igor morreu tragicamente em Salamanca, onde fazia o mestrado em Estética. Toda morte próxima é um choque que paralisa e se propaga acordando lembranças e medos. Quando Laís me telefonou dando a notícia eu o vi diante de mim: contando suas andanças pelas artes e Filosofia. Ele me lembrava muito de mim mesma em idade próxima à sua porque eu também não parava de me perguntar sobre as coisas do mundo e da alma... e nem de fumar, apesar de ser também asmática! Pensei quase imediatamente nos meus filhos, Lucas, Raquel e Caio, que têm idades próximas e que espero que vivam para sempre. Ele tinha 23 anos incompletos.

Kátia me indica particularmente um texto: Impressões de Salamanca (http://estroinaesuperfluo.blogspot.com/2008/12/impresses-de-salamanca.html). É a partir do Igor que encontro lá que busco o outro: dos encontros breves e esporádicos em João Pessoa. Parafraseando Camus e Benjamim, Igor dá uma lição sobre o desbravamento das cidades. Contra a perspectiva “sob controle”, “guiada” do turista, ele propõe que uma cidade se conhece deixando-se nela perder. E afirma: “a questão é perder-se, como acontece quando se tenta encontrar um bar ao qual já se tenha ido, mas ao qual não se sabe voltar, e, então, percorre-se todas as direções que a Plaza Mayor permite, para que assim se chegue ao lugar desejado sem que se pergunte nada a ninguém. E parte-se da Plaza Mayor porque sempre se faz necessário que se estabeleça um ponto donde começar a considerar as demais coisas.”

Concordo com você, querido, a questão é mesmo perder-se... Ter a coragem de se entregar ao que nos oferece a existência, curta ou longa. O seu blog tornou-se uma dessas cidades onde também me darei o luxo de me perder. Caminhando pelas suas palavras e idéias, sinto-o ainda próximo, ainda vivo. Quase aqui, do meu lado, perguntando se li o Benjamim da arte no tempo da reprodutibilidade técnica. Quase aqui me mostrando possibilidades que as minhas andanças não haviam me apresentado...

2 comentários:

Marcela disse...

Querida Berna, apesar da tristeza pela perda de seu sobrinho, foi com um sorriso no rosto que recebi seu email falando desta postagem. Trago sempre você na memória como a pessoa que primeiro me ajudou a descontruir algumas frágeis certezas!!!
De tempos em tempos me vejo perdida no pensamento de como seria a minha vida sem meus pais. É bom saber que todos compartilhamos este sentimento, pois nada é mais previsível [e temerário] que a morte! Vida longa a toda sua família! :)

Dan. disse...

adoro teu jeito com as palavras.
transmito meu pesar, deixo um beijo e parabenizo-te.

beijo grande