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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

De viagens e amores:


Céus do Sertão - Viajando para Sumé



À Emma, aniversariante de amanhã, e Gabi, que continuam esperando (e cobrando!) novas postagens


E aí 2009 chegou... E também cheguei eu aqui, finalmente, depois de muita viagem! O ano da graça de 2008, que começou meio atrapalhado, terminou cheio de presentes e promessas. Aprendi muita coisa sobre este mundo vasto mundo e também sobre o meu coração. A publicação de Solidão Equilibrista e o encontro com Muad’Dib foram os presentes do segundo semestre. Conto hoje sobre a publicação e lançamentos de Solidão Equilibrista. Amanhã ou depois, conto sobre Muad’Dib.

Como expliquei na crônica do dia 04 de setembro de 2008, Solidão Equilibrista foi uma “viagem” que durou quase 30 anos. Uma longa viagem, portanto. Há - naquele livrinho - poemas que foram gestados e paridos nos fins da década de 1970! Aquela poesia foi o meu candeeiro nos momentos de escuridão vividos aqui e ali ao longo dessas décadas nas três das cinco cidades mais importantes da minha vida: Sumé, Campina Grande e Fortaleza. Meio por acaso, tive o privilégio de lançá-lo em todas essas cidades.

Campina Grande foi a primeira delas. Não me lembro exatamente como se desenvolveu a idéia de lançar Solidão Equilibrista primeiro lá, mas sei que nenhuma cidade poderia ter sido mais apropriada para isto do que ela. Talvez o motivo mais importante seja mesmo o fato de que foi lá que encontrei Álvaro e de que foi ele que me apresentou ao mundo da poesia tal como o compreendo hoje. Cláudia, a quem anunciei primeiro a publicação do livro, contou para Lúcia, num encontro casual no shopping, e rapidamente as duas organizaram tudo: conseguiram convites, coquetel, entrevista na televisão e até o Lemuel Guerra, diretor do Centro de Humanidades da UFCG, tocando piano!

Quis que fosse Marcos Agra o apresentador do livro. Marcos foi o melhor professor da minha vida. Conseguia transformar a gramática portuguesa numa viagem cheia de mistérios e fascínios! Me impressionou tanto que até hoje procuro melhorar como professora à sua imagem e semelhança. Mais do que um professor exemplar, Marcos era uma das mais importantes referências das letras campinenses do meu tempo e provavelmente continua sendo até hoje. O seu senso crítico aguçado e a minha confiança no seu discernimento poético me diziam que se minha poesia passasse pela sua aprovação, eu poderia finalmente me considerar uma poetisa. Toda essa admiração me fez hesitar um pouco antes de convidá-lo a apresentar o livro, mas finalmente criei coragem e convidei. Ele aceitou, mas, como disse no discurso de apresentação, também tinha receios. Desde que saí de Campina Grande, em 1986, raramente nos encontramos e sabíamos um do outro apenas através de terceiros. Para ele, era uma surpresa que eu aparecesse com um livro de poesia quando nos nossos tempos de amigos eu nunca lhe revelara qualquer intenção de me expressar sob essa forma literária. Assim, aceitou o convite, mas prometeu para si mesmo que, se não gostasse do livro, inventaria uma dor de barriga qualquer e não iria apresentá-lo.

Felizmente foi e fez a apresentação com tanto entusiasmo que nunca vou me perdoar por não tê-la gravado. Ainda hoje, quase três meses depois do lançamento, as palavras de Marcos sobre a minha poesia ainda acariciam minha alma. Também me acariciou a alma a apresentação que Lúcia Couto fez do meu outro livro, Brasileiros nos Estados Unidos, também lançado na ocasião. A propósito do comentário introdutório de Lemuel Guerra, que dizia que o público tinha o prazer de simultaneamente conhecer duas faces da autora, a da cientista social e a da poetisa, Lúcia discordava dizendo que também na obra acadêmica eu mostrava a minha face poética. Se não me trai a memória, ela disse algo assim: “os dois trabalhos são filhos do mesmo olhar poético, de uma mesma forma de observar e interpretar o mundo, é isso que torna Brasileiros nos Estados Unidos: Hollywood e outros sonhos uma obra acessível a qualquer um.

Além da presença dos amigos mais próximos e colaboradores da obra, como Eduardo e Erika Guimarães, que criaram a capa de Solidão Equilibrista, também apareceram parentes e amigos que eu não encontrava há muito tempo, dentre eles, meu primos queridos, Cleumberto e João Bosco Reinaldo. Edna Guedes, mãe de Álvaro, e seus filhos Luiz Antônio e Rosa, também me deram a enorme honra das suas presenças. Encontrar Edna era como entrar na máquina do tempo e também encontrar Álvaro. Acho que a força da reunião com ela, seus filhos, Claudia e Marcos Agra simultaneamente materializava um pouco Álvaro. Assim como a reunião com Mãe, Klênia, Betânia, Wallas, Mariana, Beatriz, Nilda, Lola e René era também materializar um pouco Fábio.

Em Fortaleza, na noite de 4 de novembro de 2008, o lançamento também foi uma festa de amigos. Ireleno Benevides e Olganira Mota, os apresentadores, assim como Marcos Agra, em Campina Grande, foram enormemente generosos com suas palavras e interpretações da autora e da sua poesia. Impressionei-me com a viagem que Ireleno fez pelo mundo da poesia e da crítica literária a partir dos poemas de Solidão Equilibrista. Ri e quase chorei com a reinvenção do livro e da autora proposta por Olganira. Mas o que me comoveu mesmo foi ver os meus poemas ganhando vida na boca e nas interpretações dos meus amigos dos Poemas Violados. Aproveito para agradecer a Nilze Costa e Silva, Manoel César, Gervana Nobre, Fernando Néri, Olganira Mota, Theofilo Gravinis, Italo Rovere, Bento Filho, Expedito Maurício e Webster pela interpretação primorosa. A festa do lançamento foi dedicada a Caio Brito, meu filho e aniversariante do dia, e a Fábio Gutemberg, meu irmão historiador, que gostava de festas e amigos.

Dos três lançamentos, o de Sumé foi o que ensejou a viagem mais longa e mais profunda... Mas é também uma história que se mistura com outras e merece uma crônica à parte, que escreverei proximamente. Por enquanto, aproveito que ainda estamos nos primeiros dias deste ano para desejar a todos um ótimo 2009. E lembrar que, apesar das dificuldades que se anunciam na política e economia internacionais, a astrologia acredita que a entrada de júpiter em aquário traz mais esperança do que desespero.