quinta-feira, 17 de julho de 2008
Os vários mundos no meu mundo...
Estava há pouco escrevendo o meu diário que, de fato, já não mais merece esse nome porque está virando semanário, quinzenário... Mas hoje quis escrever um pouco. Mal comecei as primeiras sentenças e me dei conta de que o Caio estava na cozinha, preparando o seu café da manhã. Me perguntei se não deveria descer e ficar com ele... Aproveitar o privilégio da sua companhia. É nisto que tenho pensado ultimamente: a vida passando, meio que escorrendo entre os dedos, como água. Talvez a sabedoria seja não se angustiar com a água escorrendo, mas viver a sensação de tê-la passando entre os dedos... Sentir a sua temperatura, textura, cheiros... observar suas cores. Não adianta querer agarrá-la, prendê-la... Apenas me contentar em viver o seu fluxo. Mais ou menos isto. Acho que essa consciência da provisoriedade de tudo tornou-se mais pungente depois do casamento do Lucas. Observar, daqui da minha janela, o Lucas capinando sua horta era quase uma promessa de eternidade. Ele foi embora e eu, que já era atrapalhada, fiquei mais ainda. Mas até o galo, um símbolo de estabilidade, pirou e passou a cantar nas horas mais inesperadas e esquisitas, além de começar a fazer outras besteiras, como desafiar os cães e nos acompanhar de um lado pra outro, como um bezerro desmamado... Na verdade, a saída do Lucas encerra um ciclo. Era talvez a última conta que faltava no rosário da minha compreensão sobre a provisoriedade de tudo. Comecei a me concentrar no presente há exatos treze anos quando eu, Sérgio, Lucas, Raquel e Caio nos mudamos para Riverside, Califórnia, para o meu doutorado. Uns dois ou três meses antes da viagem comecei a prestar muita atenção em tudo que vivia e tinha em Fortaleza: as ruas tortas e esburacadas; as pessoas simpáticas, apressadas, mal-educadas; os amigos que eu ia sentir tanta falta, a Jane, o Antônio, as cores do céu do porto das Dunas, o cheiro e a brisa do mar, e Candy, a nossa cadelinha, que íamos “abandonar”. Nos meus primeiros meses em Riverside, eu vivia mais “aqui” do que lá. Somente muito aos poucos fui enxergando o lugar onde estava em carne e osso e me deixando envolver por ele. Mas foi uma luta isto. Como me envolver sem garantias? Como me “entregar” a um lugar que não era meu? Pra que gastar emoção com relações que eu já sabia limitadas, provisórias, com data marcada para acabar? Cinco anos depois, em 2000, eu vivia a situação oposta: sofria me despedindo dos amigos e paisagens conquistadas. Em cinco anos tinha me transformado noutra pessoa. Lembro-me que morria de medo de voltar para Fortaleza e perder a nova Bernadete, conquistada tão penosamente. Conversei com a minha terapeuta sobre aquele medo de voltar... especialmente de voltar a ser o que era... Ela me tranquilizou dizendo que aquele era um processo irreversível de “conversão”. E era. Eu era outra pessoa e começava a experimentar a vida de outros modos, embora me sentisse ainda meio emperrada no meu desejo de permanência de tudo. Mas não teve jeito, a minha vida não me deu trégua nos últimos treze anos... Durante esse tempo arrumei e desarrumei as malas e o coração muitas vezes... Descobri paisagens dentro e fora de mim que nem desconfiava que existissem. A vida parece mais curta agora e o mundo e os sentimentos mais vastos... Os cupins que andaram me aterrorizando nos últimos dias me levaram a descobrir que a minha casa é uma cornucópia... Um universo tão misterioso e tão profundo que eu precisaria de muitas férias como estas para desvendar... Missão impossível, quase. Muito o que fazer: vou começar saindo da frente deste computador e indo tomar café com o Caio...
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4 comentários:
re bueno
à respeito da postegem debaixo eu te digo que a sua conclusão incompleta está perfeita.
é exatamente assim mesmo. você fez um blog, está online, quem quiser (ou souber) e tiver curiosidade de ler, lê, comenta ou não e pronto.
a dinamica está nos feedbacks.
eu quero me desculpar por ter estado ausente aqui, mas eu ando ausente em muita coisa.
sem particularidades.
mudando de assunto: eu assisti um filme legal que só. "um beijo roubado". não sei se é porque eu simpatizo muito com os atores..
bom,
saudades.
e ah, só pra avisar que o email que eu coloco aqui é inativo, viu?
o que eu uso é aquele hotmail mesmo..
adoro seus textos, parece que o corpo fala.
milhões de coisas misturadas.
quero escrever coisas bonitas no meu, mas nada.
Parece que estou ouvindo você falar com aquele sotaque não sei de onde, de muitos lugares...Bernadete, pessoa com seu estilo próprio e único, que se ama ou se odeia. No meu caso, aconteceu a 1ª opção.
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