quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A bela e provinciana Floripa

(Florianópolis (Córrego Grande), 26 de agosto de 2008)

Quero começar explicando que não há nenhuma conotação pejorativa no adjetivo “provinciana” do título da crônica, ao contrário. Poderia ter usado outro adjetivo: aconchegante, por exemplo. Mas provinciana rende mais palavras, mais explicações. Então, eis porque.

Ontem, enquanto caminhava com o Lucas para a casa de Felipe, seu amigo, me lembrava dos tempos de antigamente quando ia passar férias na casa de “vózinha” e caminhávamos do seu sítio/fazenda até o de Tio Ananiano. Claro que o Córrego Grande, bairro onde estou, não é tão rural assim, inclusive os latidos fortes dos pitbulls aqui e ali, que me assustavam e irritavam, também lembravam que estávamos numa cidade grande. Talvez tenha sido a familiaridade do Lucas com lugar o que me fez lembrar mesmo de “antigamente”: a casa do Felipe parecia ser uma extensão da sua. Caminhávamos pelas ruas como se elas já lhe pertencessem: tal como um anfitrião nos mostrando os vários cômodos da casa. Íamos à casa de Felipe com dois propósitos: levar o lixo orgânico daqui e checar a internet. Checar a internet nada tinha a ver com as necessidades do Lucas, mas com as minhas: um dos meus vícios. O Lucas aproveitava a minha necessidade para alimentar a sua horta. E isto é extraordinário: não tendo mais o seu próprio sítio para cultivar, como em Fortaleza, ele transformou o quintal do Felipe nesse lugar onde pode continuar capinando, jardinando...

Conto do começo: quando depois de dois vôos da Gol finalmente cheguei em Floripa, lá estava Marcionília me esperando com o seu sorriso enorme. O Lucas tinha aula logo em seguida e, depois de uns quinze minutos de viagem de visões panorâmicas, nos deixou nas imediações do campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Era hora de almoço e Marcionília me levava para o self service do restaurante dos servidores. Que alegria ver servidas como comuns todas as verduras e legumes que em Fortaleza são excepcionais: brócolis, brotos, beringela, vários tipos de alface, couve-flor, rúcula... que felicidade. O caminho do aeroporto para o Córrego Grande já oferecia uma idéia razoável da cidade: morros e praias... ou lagoas? Mas, diferentemente do Rio de Janeiro e Salvador cujos morros são povoados pelos pobres, aqueles pareciam mais “arrumados”, mais ricos. Mas Lucas e Marcionília me explicam que não, que aquelas são as favelas daqui. Chique, hein? E aí vão contando outras coisas da sociabilidade florianopolitana: não há praticamente aquela violência tão comum em Fortaleza e na maioria das cidades com população superior a meio milhão de habitantes (aqui tem 800 mil). E até praia para surfar, como em Fortaleza, Lucas também tem. Quase em casa: uma temperatura mais fria apenas, parece ser a única grande diferença. Eu não perguntei nada ainda sobre os preconceitos dos catarinenses contra os nordestinos... Será que nem isto?

Estou aqui, na aconchegante quitinete de Lucas e Marcionilia, esperando que ela chegue da aula de dança para inventarmos algo pra comer ou sair à cata de um restaurante. Lucas ficará dando aulas de inglês até as 22 horas. Quando cheguei da conferência, Lucas ainda estava aqui e me contou, sem muito sofrimento, que a sua carteira e celular haviam sido roubados... Havia ido surfar, com o Felipe, e deixaram carteiras e roupas no “esconderijo” que sempre deixam e quando voltaram do surf só encontraram as roupas. Menos mal. Mas, enfim, além do transporte público que todo mundo reclama, Florianópolis também tem o “descuidismo”... Mas eu não experimentei nenhum dos dois ainda e, por enquanto, Floripa é para mim sinônimo de aconchego, comida saudável, farta e barata e montanhas lindíssimas que circundam todos os lugares por onde vou...

4 comentários:

Emma disse...

Berna, minha impressão é de que os pobres dos "manezinhos da ilha" são tão espremidos entre os gaúchos e os paulistas, questionados permanentemente em sua própria terra, que nem ligam muito para os nordestinos... Falando sério, o que sinto em Floripa é que há espaços para outras comunidades, muito mais solidárias, formadas igualmente pelos "estrangeiros" de todos os matizes, de norte a sul do planeta... Aproveite tudo aí.

Marcionília Pimentel disse...

E Florianópolis está feliz porque você está nela. Certeza.

Anônimo disse...

Berna: Resolvi entrar no Blog só pra dar uma ciscadinha e qual não é minha surpresa ao ver tamanho diário. Adorei. Gostei de tudo; li retrospectivamente até o Aeroporto Tom Jobim. Adorei o cafezinho que voce ganhou. Muito lindo este moço, tão delicado, tão sensível. Mas voce, Berna, deve ser uma pessoa muito especial para merecer isso. Essas coisas não se fazem para qualquer um; só a quem merece, visse? Parabéns ! Isto posto, não precisa mais me contar nada. Já vou vendo o Blog de novo. Uma pena que não tenha ido ver meu filho. É um surfista de nascença e conhece cada buraco de onda boa no mundo inteiro, onde viaja para fotografá-las, surfando-as por dentro. Imagine em Floripa. Seu filhão ia adorar conhecê-lo. Podes ter certeza. Coloque-os em contato que será proveitoso.Ele tem um menino na UFSC estudando Direito, mas que é tb outro surfista. Pedro Augusto está - creio eu - com 20 anos. Quanto a Flávio, quando bem mais jovem, faturou muito "carpindo" para quem precisasse. Portanto, também gosta de capinar como teu filho, apesar de mais velho. Foi pai aos 19 anos e já tem um filho de 28. Entre todos, continua sendo o mais "gato" deles.
Bem, fiquei curiosa com teu amigo oculto. Que cara covarde, foi se esconder logo quando você estava gostando do paparico! Fico aguardando a continuação dessa possível grande amizade que desponta, Beijão da amiga Circe

Muad'Dib disse...

Bernadete,

As vezes, não hà nada para dizer, para escrever... Enfim, nada de “particular", de "especìfico“, de "inteligente"... Simplesmente aproveitar-se daquelas "finas fatias de viagem cortadas no ar"... Na verdade, nestes ùltimos dias não fiquei com muita vontade de me comunicar... nada de pessoal ! Simplesmente, às vezes estou atravessando momentos de “TPM“ que sò provocam a vontade de dizer GRRRRRRRRRRRRRRR!!! ao mundo inteiro... Mas não me impediu de dar um pulinho nas Sumehrianas. Não me impediu de gostar muito, como sempre. Vàrias vezes me disse, que poderia também escrever alguma "patifaria“ sobre a GOL... mas sò a conheço de (mà) reputação...; sobre Florianòpolis, que também não conheço...; sobre o Kauai... que nunca experimentei...; sobre a gentileza... que conheço um pouco mais, mas que acho, às vezes, um pouco chata... não verdadeiramente a gentileza, não... as pessoas gentis, sim... às vezes... quando colonizadas pelo olhar dos outros...
Hà alguns dias atràs, também teria gostado de escrever um pouquinho sobre as percepções que se tem, là, fora do Brasil, das suas "marcas de fàbrica", dentre elas, da capoeira, da mulher brasileira, daquela "moça (tão) diferente" do Chico Buarque que acompanhou, hà muitos anos atràs, a promoção duma marca de refrigerante* e que ficou imprimida na minha retina durante bastante tempo, confesso! Nessa ocasião, o Brasil conquistou o mercado internacional em dois planos: na promoção duma certo modelo de mulher brasileira, quase a "Mulher-Modelo Getùlio Vargas", enquanto "sìmbolo-Estado Novo" da miscigenação no que hà de mais perfeito; a partir daquela canção, o Chico se tornou o porta-bandeira da mùsica brasileira "chique" and soft. A sensualidade, como marca Brazil.
Então, me resolvi a lhe escrever o quanto estou babando de inveja por causa da qualidade dos seus textos, dessas pecinhas de vida plenamente vivida; por causa do estilo encantador. Valeu ! Abraço.

* um jogo: quem indica o nome daquele refrigerante ganha minha consideração eterna!