quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sobre a paixão

(in Solidão Equilibrista, Edições UFC, 2008)


De que serve a paixão
senão para transmutar o dia em borboletas,
ruídos em vagalumes,
e nuvens em deuses, cometas, zumbis?

de que serve a paixão
senão para me envolver nessa nuvem de desejo
e me transformar numa mulher esguia, leve,
com idéias e desejos se desprendendo de minha alma
como bolhas de sabão?

de que serve a paixão
senão para nos transformar um pouco?
nos carregar com as suas vagas para o meio do mar,
e nos abandonar lá, no escuro,
sem vento e sem prancha?

de que serve a paixão
senão para ver a dor tomando todos os cômodos da casa?
todos os poros das paredes, móveis, lençóis?
escorrendo devagar por todas as frestas e ralos?

de que serve a paixão
senão para deixar este deserto maior do que o Saara dentro de mim?

É assim: quando se vai a paixão
resta um oceano inteiro a se navegar...
O mundo se apresenta em vestes menos espalhafatosas;
meio cinzento,
meio rosa-clarinho,
às vezes amarelo-pálido...
breves visões de oásis...

Eu, me olhando no espelho...
e me enxergando
outra vez...

4 comentários:

Anônimo disse...

Recebi os livros hoje à tarde. E, realmente, só posso dizer que ele está muitíssimo lindo. A capa, o prefácio, o posfácio. E, é claro, os poemas. Deu vontade de sair mostrando logo para todo mundo. Mas, sei que preciso me conter para não estragar a surpresa do dia do lançamento. Confesso que demorei um pouco para conseguir chegar até o final do livro, pois seus poemas conseguiram arrancar muitas lágrimas minhas. Precisei fazer algumas pausas, pois tornou-se impossível ler e chorar ao mesmo tempo. A dedicatória para Álvaro fez-me lembrar profundamente dele. Fiquei imaginando a sua alegria, aonde quer que ele esteja, ao ser responsabilizado por ter despertado em vc o gosto pela poesia. Ao chegar ao final do prefácio, precisei dar-me um tempo para começar a ler os seus poemas. E, só posso dizer que não encontro palavras para descrever o que eu senti. O que eu sei é que eu gostei demais de todos eles. É curioso, que após todos esses anos eu só tenha descoberto agora que vc é tão boa em verso, quanto em prosa. Fiquei, então, a me perguntar por que vc escondeu tanto tempo a sua poesia? Qual a carta que vc ainda tem escondida na manga para nos revelar?

Um forte/grande
abraço

Claudia

Anônimo disse...

Sobre a paixão o que tenho a dizer é que a meu ver se trata de um poema-diagnóstico: decifra as nuances fisiopatológicas dessa síndrome chamada "paixão". Síndrome que acomete muitos dos humanos por breves períodos até que encontrem um remédio eficaz, uma dieta salvadora, ou mesmo sonoterapia que lhe faça acordar e ver no outro dia, claro e transparente, o maior antídoto: O AMOR!
Não quero dizer que não esteja eu de vez em quando com sintomatologia semelhante. Procuro
logo um especialista nisso: meu superego que logo identifica os pródromos e me prescreve algumas gotas mágicas e um retiro. Meditar, sim, encontrar comigo e com Ele. Nesse espaço salvador entre silêncios vejo meu coração mais transparente. Às vezes em chamas, às vezes ausente, mas sempre passível de tocar com a mão.
Assim, solto meu coração ao vento,
liberto de todo sofrimento
por um momento,
até
começar tudo novamente...

w.h. disse...

muito feliz por te ver assim: feliz! ei! resolvi fazer um blog só de citações das coisas que gosto. Como sempre te disse, como escritora não sou lá essas coisas, mas como leitora.. dá uma olhadinha e me diz o quê tu acha da idéia. Depois tu me permite postar alguma poesia do "solidão equilibrista"? um xêr. Wanessa Holanda

Bruxa disse...

Lindo, minha querida, Lindo !

Como linda é a paixão com todo o êxtase e desamparo que nos traz. Mas no fim, estamos novamente sós, prontas para mais outra viagem da vida...